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O mundo caminha para uma tragédia que pode ser evitada, mas que não é face a ganância do ser humano em apenas lucrar com os recursos naturais sem repor ao meio ambiente.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

ONU publica Avaliação Ecossistêmica do Milênio: como cuidar de um planeta doente

Por: Karina Miotto
Em pleno século XXI não é mais segredo para ninguém a necessidade de cuidar do meio ambiente – e, mais do que nunca, organismos internacionais começam a se preocupar com os efeitos de tantos maus tratos. Como está a saúde dos ecossistemas do planeta? De que forma os ecossistemas podem mudar o futuro e influenciar a vida humana? O que pode acontecer com o mundo se a degradação ambiental continuar no ritmo em que está? Qual a melhor forma de preservar o meio ambiente em um mundo que se torna cada vez mais globalizado, industrial e capitalista? Foi pensando nas respostas a essas perguntas que Kofi Anam, Secretário Geral da ONU, encomendou a elaboração da Avaliação Ecossistêmica do Milênio.
Trata-se de um projeto que desvenda a saúde dos ecossistemas do planeta e sua relação com a manutenção da vida. O estudo foi feito de 2001 a 2005 por um grupo de 1 350 cientistas de 95 países, incluindo o Brasil. Entre os participantes encontram-se pesquisadores de diversos órgãos e universidades, como a de Stanford, nos Estados Unidos, a de Pretória, na África do Sul, a de Oxford, no Reino Unido e o Instituto de Crescimento Econômico, na Índia. Fernando Almeida, Presidente Executivo do Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável e José Galízia Tundisi, Presidente do Instituto Internacional de Ecologia, são os brasileiros que contribuíram com a avaliação. Todos os tipos de ecossistemas foram estudados, desde florestas naturais até ambientes modificados pelo homem, como áreas urbanas e agrícolas. Na América do Sul, as pesquisas abrangeram a cordilheira de Vilcanota, no Peru, o cinturão verde de São Paulo, o deserto do Atacama, no Chile, e a zona cafeeira da Colômbia.
Para entender a avaliação é necessário ter em mente que fatores sociais e econômicos influenciam diretamente na saúde dos ecossistemas, o que também gera conseqüências imediatas para a vida humana. É um ciclo. Entrando em frases populares, “o homem colhe o que planta”. A tecnologia e o estilo de vida que envolvem determinada população podem afetar diretamente a saúde do meio em que ela se encontra, ou, de acordo com o próprio estudo, “o bem-estar humano”. Se cada população tratasse bem o ecossistema em que vive, procurando agir dentro dele de forma sustentável, de maneira que ele sofresse o mínimo de intervenções, então o ser humano provavelmente não sentiria tanto as conseqüências das mudanças provocadas nesse mesmo ecossistema. Quanto mais a população intervir no meio ambiente, mais colherá os frutos dessa intervenção – e eles normalmente não são bons.
O resultado da Avaliação Ecossistêmica do Milênio é preocupante, tendo em vista que a vida do homem na Terra depende da saúde dos ecossistemas. A humanidade precisa de recursos naturais para sobreviver e nunca os ecossistemas do mundo foram tão agredidos e modificados como nos últimos 50 anos. Um dos grandes fatores que implica na atual situação dos ecossistemas é o crescimento da população mundial, que fez aumentar a níveis exorbitantes o uso de água, a produção de alimentos, a extração de madeira, o uso de fibras e de combustível.
Esse tipo de comportamento gerou uma das principais conclusões da avaliação: além do fato de 60% dos ecossistemas avaliados não serem utilizados de forma sustentável, dentro de pouco tempo o planeta não terá mais condições de fornecer bens naturais aos homens. As alterações feitas nos ecossistemas aumentam as chances de mudanças radicais, prejudiciais, “abruptas e potencialmente irreversíveis” aos seres humanos. A destruição de hoje vai gerar surtos de epidemias - além disso, o planeta vai perder a capacidade de fornecer peixes e água doce, de reciclar nutrientes do solo e de controlar o clima, sem falar na dificuldade de recuperação de áreas que sofrerem desastres naturais. O homem ainda não sabe usufruir de forma saudável e coerente os recursos do meio ambiente e a degradação dos ecossistemas afeta primeiramente as populações mais pobres, o que gera ainda mais desigualdade e conflitos sociais.
Mudanças nos ecossistemas apresentadas pela Avaliação:
-A partir de 1945, mais terras foram convertidas em lavouras do que nos séculos XVIII e XIX juntos. Os sistemas cultivados - áreas onde pelo menos 30% da paisagem consiste de lavouras, criação de gado confinado ou aqüicultura de água doce - representam um quarto da superfície terrestre do planeta;
-20% dos recifes de corais desapareceram e outros 20% foram degradados nas últimas décadas do século XX. Também foram destruídas 35% das áreas de manguezais;
-A extração de água dos rios e lagos duplicou desde 1960. 70% do uso mundial da água vai para a agricultura;
-Desde 1750, a concentração atmosférica de dióxido de carbono aumentou em 32%, principalmente em decorrência da combustão de combustíveis fósseis e mudanças no uso do solo;
-O homem está alterando de forma irreversível a diversidade da vida no planeta. Isso acarreta significativa perda da biodiversidade;
-Mais de dois terços da área de 2 dos 14 maiores biomas do planeta, e mais da metade da área de quatro outros biomas foram convertidos, até 1990, principalmente para a agricultura;
-Nos últimos séculos, a taxa de extinção de espécies pelo homem aumentou cerca de 1.000 vezes. Entre 10% e 30% das espécies de mamíferos, aves e anfíbios encontram-se atualmente ameaçadas de extinção. Em geral, os habitats de água doce tendem a apresentar a maior proporção de espécies ameaçadas;
-A incidência de doenças em organismos marinhos e o aparecimento de novos agentes patógenos vêm aumentando e alguns deles, como a ciguatera, prejudicam a saúde humana. A proliferação nociva (e também tóxica) de algas em águas costeiras crescem em freqüência e intensidade, prejudicando a produção pesqueira e a saúde humana;
Conclusão:
Além de avaliar a saúde atual do planeta, a avaliação também propõe a governos do mundo todo opções que podem diminuir a degradação ambiental e até mesmo contribuir para a regeneração dos ecossistemas globais. Políticas de educação do público em geral e de indústrias; controle populacional; fiscalização de programas ambientais que intensifique a transparência da prestação de contas; participação mais ativa dos meios de comunicação na divulgação da real situação dos ecossistemas do planeta, bem como das soluções propostas por entidades competentes; estabelecimento de cotas que limitem a produção pesqueira; criação de áreas de proteção marinha; programas de uso sustentável de ecossistemas que tenham a participação de populações nativas, mulheres e jovens; substituição de combustível – de carvão ou petróleo, para gás; investimento em tecnologias que não agridam o ambiente –na agricultura, esse fator pode culminar na diminuição significativa do uso de águas e fertilizantes no solo, por exemplo. Estas são apenas algumas das cerca de 74 soluções propostas.
A Avaliação Ecossistêmica do Milênio é uma espécie de alerta com sinal vermelho a todos os governos – se não começarem, desde já, a reverem suas políticas ambientais, sociais e econômicas, dentro de pouco tempo a vida na Terra se tornará insustentável. Quem pensa que pode dormir tranqüilo porque, afinal de contas, o estudo se refere a um futuro distante, está muito enganado. Tudo isso irá acontecer em no máximo 50 anos. Tempo pequeno demais para evitar um colapso ambiental, levando-se em conta que a Terra já existe há 4,6 bilhões de anos.

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